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  • Foto do escritorRafael Rodrigues

Quando sua ancestralidade vai, como você fica?

Atualizado: 24 de abr. de 2023

“Se você quer civilizar um homem, comece pela avó dele.”

Victor Hugo

 

Afinal, o que somos ou o que podemos nos tornar quando nossa ancestralidade começa a morrer?


Carl Gustav Jung diz que a conexão com nossos antepassados é importante para entendermos a nós mesmos e nossa psique.


Ele acreditava que o inconsciente coletivo, umas das camadas mais profundas do aparelho psíquico que contém os arquétipos (imagens universais), é influenciado pelas experiências e memórias de nossos antepassados e a importância que há para o processo de individuação, já que que envolve a integração dos conteúdos inconscientes e o reconhecimento da herança ancestral. E essa ancestralidade podendo ser uma fonte de força e inspiração, mas também pode conter traumas e feridas que precisam ser reconhecidos e trabalhados.


Além disso, ele afirmava que a relação com os avós serve como um espaço de conexão com nossas raízes e tradições familiares. Ter essa conexão com a história e a cultura dos nossos ancestrais nos ajuda a fornecer um senso de identidade e significado para nossas vidas, ou seja, está diretamente ligado com a nossa formação enquanto indivíduos.


Se pensarmos na ideia de anima(potencialidade feminina) e animus(potencialidade masculina), os avós eram vistos por ele como representantes dessas polaridades. E nessa relação, entre avós e netos, ser o caminho para explorar e integrar essas qualidades em nós. Assim, sendo a via para acessar as imagens e experiências compartilhadas e transmitidas através das gerações, portanto, o caminho para se chegar no inconsciente coletivo.


Mas falando especificamente sobre as avós (peço permissão para isso e explico lá no final o porquê), que é semelhante à importância do avô, Jung acreditava que elas também desempenham um papel significativo na formação da psique individual (inconsciente pessoal) e coletiva (inconsciente coletivo).


Para ele, elas são frequentemente vistas como as guardiãs da tradição e da cultura familiar. Sendo ratificado pelo querido professor Jorge Braga onde falava que “as mulheres são as que carregam a ancestralidade do mundo, já que seus óvulos vieram de suas mães, avós, bisavós e etc”. Elas são as responsáveis por transmitem valores, histórias e experiências, importantes para a construção da personalidade do indivíduo. Dada a importância da conexão com o lado feminino da psique, que é frequentemente associado à figura da mãe e da avó. Mas a representação da imagem universal da avó sendo uma fonte de nutrição, conforto e segurança para nós assumindo o lugar também de sabedoria e conhecimento, oferecendo orientação e suporte emocional.


Qual o impacto disso na vida do indivíduo?


Com a morte dos avós é possível que haja um impacto significativo na psique pessoal, especialmente se havia um laço emocional forte com eles. A morte de um ente querido poderá desencadear uma crise psíquica e forçar o indivíduo a enfrentar a realidade da morte e da impermanência da vida. Para Jung, quando morre um avô ou uma avó, a sensação de perda de um aspecto importante da identidade e das raízes culturais e familiares pode se fazer presente levando o sujeito a desencadear uma reflexão sobre a própria mortalidade e a transitoriedade da vida.


Mas ela também possibilita uma oportunidade para a renovação e transformação da psique nos levando a confrontar nossas próprias questões existenciais e integrar a realidade da morte em sua compreensão com a realidade da vida.


Com isso, posso citar e falar sobre a metanóia, que é um termo derivado do grego e significa "mudança de mente" ou "transformação". Há possibilidade dele ser desencadeado por eventos significativos na vida, como a perda de uma pessoa querida, uma crise existencial ou uma experiência religiosa ou espiritual. Através desse processo, a psique tende a ser transformada em um nível profundo e alcançar uma maior realização do si mesmo(Self).


Tal processo se refere a uma transformação significativa da psique que ocorre através da integração de partes inconscientes da personalidade e da experiência de vida. Ela faz parte do caminho da individuação, que é o processo de desenvolvimento da personalidade e da busca pela realização do potencial humano e sua integração. A respeito da individuação, ele envolve a descoberta e integração de conteúdos inconscientes, incluindo conteúdos sombrios e dolorosos, reprimidos ou negligenciados.


Bom, preciso avisar que este texto surgiu a partir de uma experiência pessoal e de uma mensagem enviada por uma amigo sobre o falecimento recente da minha avó paterna. Ele disse: “Estou pensando nas mortes que vivemos ao longo da vida. Mas sem dúvida as da nossa ancestralidade são as que mais nos são caras.”


E de fato, a ida dela está causando impactos em minha psique que me levaram a compartilhar com vocês essas palavras pois, conforme citei Victor Hugo no começo da página, minha avó teve e tem uma influência imensa na formação do homem civilizado que sou!


Obrigado, Tutua, por me transformar e continuar me transformando no homem que sou e posso vir a me tornar a ser!


Te amo, vó!




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©2020 por Rafael Rodrigues - Psicólogo CRP 05/60533

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